Alguns síndicos, por desconhecimento, pensam que seus prédios são seguros, mas, nem todos são!!!
Quando vou a festas e eventos, é comum que pessoas me abordem para falar sobre segurança, principalmente em relação a condomínios residenciais.
E foi o que aconteceu recentemente! Estava no lançamento de um livro no Shopping Higienópolis, quando um senhor, que aparentava cerca de 70 anos, disse acompanhar meus comentários sobre criminalidade na televisão desde o fatídico caso Isabela Nardoni. Em seguida, comentou que era síndico há 17 anos de um prédio nas proximidades e que se orgulhava de o local nunca ter sofrido invasão de bandidos.
Imediatamente perguntei:
“ Mas o condomínio onde o senhor mora e administra há quase 2 décadas tem segurança confiável e efetiva? ”
A resposta foi rápida:
“ Claro que sim. Acabei de lhe dizer que meu edifício nunca sofreu assalto à mão armada ”.
Apesar de gentil, ele não gostou muito quando fiz outra colocação:
“ O fato de o prédio nunca ter sido alvo de bandidos armados não representa que seja seguro para se morar ”.
Ele insistiu que o condomínio tinha nível de segurança razoável, e eu retruquei:
“ O que o senhor entende por Segurança Razoável? ”
Me respondeu através de indagação interessante:
“ Lordello, quais os níveis de segurança que um prédio pode ter na sua opinião? ”
O papo estava ficando interessante, então, fiz a seguinte colocação:
“ Condomínios residenciais e comerciais podem ser avaliados quanto ao nível de segurança da seguinte forma:
- Excelente Nível de Segurança
- Bom Nível de Segurança
- Nível de Segurança Mediano
- Nível de Segurança Baixo
- )Nível de Segurança Baixíssimo
Após ofertar essa explicação, reperguntei:
O senhor que é sindico há tanto tempo desse prédio, qual nível de segurança ele se encontra?
O administrador engasgou, pensou por alguns segundos, não quis perder a pose e respondeu:
“ De acordo com sua escala, posso garantir que o nível de segurança do meu edifício é bom. Sei que tem algumas falhas, mas acredito serem poucas ”.
“ Quais são as falhas que o senhor aponta? ”
“ São apenas detalhes. Como lhe disse no início da conversa, nunca tivemos assalto ”.
A conversa estava esquentando e fiquei curioso em saber das “ pequenas ” vulnerabilidades que ele mencionou. Assim, fiz algumas perguntas para tentar avaliar, mesmo à distância, o nível de segurança do edifício do simpático síndico:
“A guarita do seu prédio é blindada? ”
“ Não “
“ Possui pelo menos passa volumes? ”
“ Não, mas tenho clausura de pedestres ”.
“ Como o porteiro libera a entrada de moradores e domésticos? ”
“ Meus funcionários são próprios e estão no prédio há mais de 10 anos, por isso conhecem todo mundo, de cabo a rabo ”.
“ A entrada da garagem possui 1 ou 2 portões? ”
“ Somente 1 portão, pois como o prédio é antigo, não tem espaço para instalar o segundo portão e formar a clausura. Essa é realmente uma deficiência ”.
“ Quem aciona o portão automático para abertura do único portão da garagem? ”
“ O morador aciona com controle remoto ”.
“ O sistema de controle remoto do seu prédio é analógico ou digital? ”
“ Lordello, não sei qual a diferença entre esses dois modelos ”.
“ Se não sabe a diferença, é porque o senhor tem o sistema antigo, que permite facilmente a clonagem ”.
“ Seu prédio possui normas e procedimentos para a área de segurança? ”
“ Claro que sim, todo edifício tem que ter normas e procedimentos ”.
“ Há quanto tempo essas normas não são revisadas ou complementadas ”.
“ Há muitos anos ”.
“ Quantos anos mais ou menos? ”
“ Faz muito tempo, por isso não me recordo ”.
“ A administração tem cadastro atualizado dos moradores, respectivos veículos e dos empregados domésticos? ”
“ Para ser honesto, os moradores não colaboram e por isso o cadastro é falho ”.
Depois dessa bateria, refiz uma pergunta inicial:
Responda com sinceridade, qual nível de segurança do seu condomínio atualmente, tendo em vista o crescente avanço da criminalidade?
Mesmo um pouco constrangido, o síndico respondeu:
“ Bem, depois da bateria de perguntas que você me fez, acho mesmo que a segurança do meu prédio é mediana ”.
Neste momento da conversa, resolvi ser mais incisivo:
“ O senhor vai me desculpar, mas de acordo com suas respostas, o nível de segurança do prédio em que mora e administra é baixíssimo ”.
O síndico não gostou do que ouviu e replicou:
“A segurança do meu prédio pode não ser a ideal, mas dizer que é baixíssima acho exagero, pois você não conhece o condomínio, poxa ”.
Peguei então meu smartphone e solicitei o endereço completo do edifício. Ele arregalou os olhos e forneceu.
Imediatamente abri o aplicativo “Maps”, inseri o endereço e em poucos segundos eu tinha à minha disposição toda a fachada do prédio. Com os dedos na tela, fui aumentando a imagem e percorri toda a extensão frontal.
Após 1 minuto analisando as imagens, ofertei o seguinte diagnóstico:
“ Eu estava certo; por vários motivos, seu prédio tem baixíssimo nível de segurança. Vou citar somente alguns: ”
- A guarita é antiga, da época que o prédio foi criado e não sofreu nenhum ajuste ou remodelação.
- A clausura de pedestres está ultrapassada, não tem condições de evitar entrada de bandidos.
- Observei na imagem o porteiro fora da guarita; erro gravíssimo para a segurança do edifício.
- Provavelmente, os porteiros são amigos dos moradores; devem fazer favores pessoais para eles, o que desvia o foco da segurança.
- A proteção por fios no perímetro é frágil e de qualidade duvidosa. Apostaria que não está funcionando; ele confirmou que realmente está com sérios problemas de funcionamento, principalmente alarmes falsos e assim resolveu desligar o sistema.
- O único portão da garagem é grande, provavelmente pesado, aumentando assim o tempo de abertura e fechamento.
O síndico permaneceu em silêncio com minhas observações. Se não retrucou nenhuma delas, é porque concordou com minha análise de risco virtual.
Para finalizar, deixei a seguinte mensagem:
“ Caro síndico, não caia na armadilha de deixar para segundo plano os investimentos que precisam ser realizados para que moradores e funcionários possam ter tranquilidade para morar e trabalhar. Da mesma maneira como uma pessoa que não está doente pode não ser saudável, o fato de seu prédio nunca ter sofrido assalto à mão armada não significa que tenha bom nível de segurança. Não espere o pior acontecer para melhorar a segurança do edifício ”.
O síndico agradeceu o bate-papo e prometeu que iria repensar toda a segurança do edifício que administra por quase 2 décadas.
Ficou claro para mim que era pessoa com pensamento reativo, ou seja, que toma atitudes depois de acontecer algum problema. Síndicos devem ser proativos, ou seja, agir antes que o sinistro aconteça, minimizando, assim, a possibilidade de riscos.
JORGE LORDELLO
Pioneiro em Palestras “in company” sobre Segurança Pessoal e Patrimonial
Especialista em Segurança Pública e Privada
Palestrante e Conferencista
Escritor Internacional e Articulista com mais de 2500 artigos publicados
Pesquisador Criminal
Conhecida na mídia como “Doutor Segurança”
www.lordellotreinamento.com.br
jlordello@uol.com.br