Transporte blindado de bife e frango para a dona de casa
Há 30 anos seria impensável imaginar que prédios residenciais teriam guarita blindada?
Quem poderia prever que estabelecimentos comerciais de bairro, tais como pizzarias, farmácias ou depósitos de botijões de cozinha, fossem vender seus produtos através de interfone e passa volume, mantendo as portas fechadas?
O filme “Quarto do Pânico”, lançado em 2002, narrava a estória da recém-separada Meg Altman e a filha Sarah, que são surpreendidas com a invasão de seu apartamento por três bandidos. Elas se escondem em um quarto secreto, especialmente projetado para situações de emergência. Na época, os comentários eram sobre o delírio e exagero do autor.
Blindar uma escola de ensino fundamental ou médio para proteger alunos, professores e funcionários, só seria imaginável em locais com enorme possibilidade de guerra civil ou total descontrole social e subversão da ordem pública.
Infelizmente, tudo que acabo de narrar virou realidade no Brasil, tendo em vista o aumento dos índices criminais e da violência empregada pelos bandidos, cada vez mais organizados e equipados com armas sofisticadas.
Um dos crimes que mais têm crescido, é o roubo de cargas, que gera prejuízos de milhões de reais para as empresas e provoca aumentos de até 20% nas prateleiras dos produtos mais visados pelos bandidos.
A conclusão, é que todos perdemos, menos os marginais, que faturam muito com a indústria da receptação de mercadorias oriundas de crime.
A última solução encontrada pela empresas que precisam distribuir suas mercadorias, jamais foi prevista por qualquer especialista na área de segurança.
O volume de assaltos a cargas aumentou tanto, principalmente no ramo de carnes, que diversas empresas da região serrana do Rio de Janeiro estão contratando carros-fortes refrigerados.
O dono de um abatedouro dessa região, que não quis se identificar, disse que perdeu em 2016 quatro dos quinze caminhões de sua frota de entregas, além de registrar um total de R$ 450 mil de prejuízo com os roubos de carga.
A Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, informou, recentemente, que 7,9% do faturamento bruto são aplicados em gerenciamento de risco. É claro que essa despesa é repassada ao cliente, encarecendo o produto em 10% na segurança e mais 10% com o frete.
Mais uma vez a sociedade se vê acuada, como se estivesse no canto do ringue de luta, levando bordoada em todas as partes do corpo, e o juiz não manda paralisar o embate.
Portanto, o prognóstico não é dos melhores.
Vamos ter que nos acostumar a ver enormes caminhões blindados, com vigilantes armados com escopetas calibre 12, transportando o frango ou o bife que vamos colocar na mesa, como se fossem sacos de dinheiro ou barras de ouro.
Lamentavelmente, o governo federal, que faz esforço brutal para passar as reformas trabalhista e previdenciária no congresso nacional, não apresenta o mesmo empenho em alterar as caquéticas e arcaicas leis penais brasileiras.
JORGE LORDELLO
Pioneiro em Palestras “in company” sobre Segurança Pessoal e Patrimonial
Especialista em Segurança Pública e Privada
Palestrante e Conferencista
Escritor Internacional e Articulista com mais de 2500 artigos publicados
Pesquisador Criminal
Conhecida na mídia como “Doutor Segurança”
www.lordellotreinamento.com.br
jlordello@uol.com.br