O vereador Carlos Bolsonaro afirmou que se a mulher espancada em seu apartamento no RJ tivesse arma de fogo legalizada, teria resolvido o problema. Teria resolvido ou agravado?
O filho do Presidente postou no twitter o seguinte comentário logo após Elaine Perez Caparroz, de 55 anos, ter sido espancada por quase quatro horas em seu apartamento na Barra da Tijuca, Rio de janeiro:
“Se essa senhora tivesse como se defender, e fosse de sua vontade, uma arma de fogo legal resolveria justamente esse absurdo. Imagine as sequelas eternas deixadas por esse covarde? A defesa pessoal dentro de sua casa têm que ser prioridade urgente do Congresso Nacional”.
A solução não parece tão simplista e realmente não é!
Precisamos nos debruçar sobre o crime ocorrido, que chocou o Brasil, e aprofundar o tema.
A vítima conheceu Vinicius Batista Serra, de 27 anos, através das redes sociais, onde mantiveram conversa por longos 8 meses, ou seja, já havia o que chamamos de “amizade virtual” profícua, galgada em certa confiança, mesmo que imerecida.
Após esse longo período, eles marcaram o primeiro encontro no pequeno apartamento de Elaine Perez Caparroz, onde ela preparou jantar.
Tudo leva a crer que após realizarem a refeição regada a vinho, o agressor pediu para dormir no apartamento da vítima, tendo em vista o adiantado da hora. A confiança era tanta, que a vítima permitiu que o acompanhante pernoitasse em seu lar.
Durante a madrugada Vinicius acordou e, inadvertidamente, passou a agredir a mulher por cerca de 4 horas. Depois de preso, em razão de prisão preventiva decretada, alegou que teve surto psicótico e confessou as agressões.
Elaine sofreu fraturas no nariz e nos ossos perto dos olhos. Levou quase 40 pontos dentro da boca, além de ter perdido um dente da frente, mas, felizmente, não sofreu danos neurológicos.
A pergunta que não quer calar:
“Se Elaine tivesse arma de fogo em casa, teria tido condições de se defender?”
Primeiramente, é preciso esclarecer para os leigos que arma de fogo é um excelente equipamento para ataque, mas não tem a mesma potencialidade para defesa.
A explicação é simples de entender.
Vítimas, geralmente, são pegas de surpresa e por isso têm dificuldade de alcançar a arma de fogo para tentar se defender.
E foi exatamente isso que aconteceu com a empresária Elaine. Ela estava dormindo e foi acordada já recebendo fortes socos na região da cabeça. Seu irmão relatou que “ela acordou com um murro na cara – foram vários socos. Ela levantou os braços para se proteger, mas aí ele passou a mordê-los. Os antebraços da minha irmã estão mordidos”, lamenta Rogério.
Ao acordar abruptamente, dificilmente uma pessoa consegue raciocinar direito; leva alguns segundos ou até minutos para entender o que está acontecendo. Portanto, numa situação de violência como a que estamos comentando, despertar por golpes de força brutal tornaria uma missão quase impossível se valer de qualquer meio de defesa disponível.
Na verdade, a vítima estava “dormindo com o inimigo” e não tinha a menor ideia disso.
Não podemos esquecer que a diferença de idade entre a vítima e o agressor é grande. Elaine tem 55 anos e Felipe apenas 27 anos, sendo certo que ele é faixa roxa de jiu-jitsu. Vinicius é jovem, esportista, praticante de artes marciais e já participou de várias competições de luta.
Jiu-jitsu é uma arte marcial japonesa que utiliza técnicas de golpes, alavancas, torções e pressões para derrubar e dominar um oponente. E foi exatamente isso que o agressor fez, ou seja, dominou completamente a mulher de quase 60 anos de idade, com o intuito de machucá-la gravemente.
O porteiro do prédio, Juciley Souza Andrade, de 44 anos, que socorreu a vítima Elaine Caparroz, disse à imprensa:
“Se eu demorasse mais 10 ou 15 minutos, ela não sobreviveria”,
Mas vamos supor que a vítima tivesse em seu pequeno apartamento uma arma de fogo legalizada, conforme comentou o vereador fluminense Carlos Bolsonaro.
A primeira pergunta importante para reflexão é a seguinte:
“Aonde a arma estaria guardada?
Provavelmente, estaria escondida em local de difícil acesso, de certo trancada em alguma gaveta com chave ou encima de armário alto. Esclareço, ainda, que muita gente guarda arma de fogo desmuniciada, longe das munições, com receio que alguém encontre e possa fazer uso de imediato.
De qualquer forma, não me parece plausível acreditar que Elaine Caparroz, agredida violentamente por quase 4 horas, tivesse condições físicas e emocionais de buscar arma de fogo para atirar contra o rapaz que a espancava e que é conhecedor profundo de artes marciais voltada para a dominação do oponente no solo.
Todo mundo sabe que a especialidade do praticante de jiu-jitsu é imobilizar o oponente no chão e até mesmo em pé, para poder agredir.
CONCLUSÃO
Mesmo que a vítima tivesse arma de fogo legalizada em seu apartamento, seriam remotíssimas as chances de alcançá-la, pois foi pega de surpresa enquanto estava dormindo e, para piorar, o agressor é um lutador.
Portanto, o debate sobre a posse e porte de armas de fogo não pode ter como base o ativismo político. Devemos deixar as paixões de lado. O assunto é demasiadamente sério e deve ser discutido com base em estudos profundos, análise de estatísticas policiais no Brasil e, principalmente, por aqueles que por militarem na área criminal cotidianamente podem apontar os pontos favoráveis e desfavoráveis de cada medida a ser implantada através de legislação federal.
JORGE LORDELLO
Pioneiro em Palestras “in company” sobre Segurança Pessoal e Patrimonial
Especialista em Segurança Pública e Privada
Palestrante e Conferencista
Escritor Internacional e Articulista com mais de 2500 artigos publicados
Pesquisador Criminal
Conhecida na mídia como “Doutor Segurança”
www.lordellotreinamento.com.br
jlordello@uol.com.br