O dinheiro interfere nas emoções, inverte lógicas e pode até seduzir o “honesto” ao crime
Tenho absoluta certeza que o leitor conhece o seguinte ditado popular:
“A ocasião faz o ladrão”.
Estudo o fenômeno da violência urbana no Brasil há mais de 30 anos; posso garantir que em muitos crimes o cidadão, por ter facilitado tanto o “trabalho” para o criminoso, se tornou vítima.
Na mesma linha de raciocínio, o escritor e poeta Machado de Assis disse:
“A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito”.
A mensagem dessa singela frase é perfeita e deve servir de aviso e alerta para todos os brasileiros.
Muita gente reclama que ao deixar o carro com manobrista ou para lavar, às vezes, repara que moedinhas que estavam no console do auto foram subtraídas. O funcionário não é criminoso contumaz, mas a todo momento se depara com dinheiro sem proteção à sua frente. Certo dia pega três moedinhas de R$ 1 de um carro e mais tarde mais algumas. Com isso, na hora de voltar para casa, come um gostoso sanduiche.
E a empregada doméstica, que ao ver grande quantidade de file mignon na geladeira resolve separar dois bifinhos e levar para casa. Com o tempo, pode se tornar um hábito.
O raciocínio é mais ou menos assim:
“É tão pouco o que estou pegando… não vão notar falta”.
O leitor deve conhecer caso onde alguém acabou subtraindo ou se apropriando de dinheiro de pessoa muita próxima. Nesses casos, temos que é sempre a “ocasião” que gera a vontade de auferir algum tipo de vantagem indevida.
Nesta semana, fiquei sabendo, através de um tenente da Polícia Militar, que há cerca de 20 anos um coronel vendeu a casa onde morava. O intuito era comprar residência maior, e para tanto, iria realizar financiamento do que faltava. O negócio foi concluído e o comprador foi ao quartel e levou em uma maleta o valor total da transação. Como o policial ainda teria que ir ao cartório de registros para formalizar a venda, pediu para seu motorista de extrema segurança, que o acompanhava há 10 anos, para ir ao banco depositar o dinheiro em sua conta. O soldado atendeu imediatamente as ordens do superior e com a viatura foi à agência mais próxima. O problema é que naquele dia não retornou ao local de trabalho e também não atendeu mais o rádio da viatura. O coronel imaginou que tivesse ocorrido assalto ou até mesmo sequestro de seu subordinado. Após dois dias, a viatura policial foi localizada estacionada em via pública e o policial nunca mais apareceu e foi considerado desertor. O mais incrível, é que o policial, ao ver tanto dinheiro, resolveu cair no mundo, não avisando sequer sua família.
Outro fato que me chamou a atenção, foi o de uma dona de empresa de ar condicionado, que em 2008 começou a perceber que estavam subtraindo dinheiro de sua carteira, que ficava dentro da bolsa que deixava na sala em que trabalhava diariamente. Indignada e desejando saber quem era o gatuno, contratou detetive particular, que instalou câmera oculta em sua sala. Para surpresa da proprietária, o autor do furto era a pessoa em quem tinha mais confiança na empresa, ou seja, o gerente, contratado desde o início da firma, há mais de 15 anos. Ao ser confrontado com as imagens, o homem começou a chorar e implorar que o caso não fosse levado às autoridades policiais. Indagado sobre o motivo daquele ato repugnante, respondeu:
“Não tinha condições financeiras para arcar com as despesas da formatura de minha filha na universidade e queria muito vê-la na festa. Foi por isso que fiz essa bobagem”.
Caso pior sofreu um amigo que é médico cardiologista. Certo dia, ao receber notificação da receita federal que cobrava dívida milionária de impostos atrasados, ficou revoltado, pois se orgulhava de pagar em dia todos os impostos devidos. Quando o contador fez levantamento minucioso e constatou que as guias de recolhimento haviam sido falsificadas pela gerente do médico, que estava embolsando o dinheiro. A vítima ficou absurdada com a descoberta da fraude, praticada justo por quem tinha toda sua confiança. O valor da dívida era astronômico e o caso foi parar na polícia. Em seu interrogatório, a gerente, aos prantos, alegou que não tinha mais um centavo sequer, pois tinha se viciado no jogo de videobingo.
CONCLUSÃO
É dever de cada pessoa minimizar riscos para não ser vítima de crimes e acidentes. Se a “ocasião” pode fazer o ladrão, cabe-nos não gerar oportunidades, nem para aqueles que estão à nossa volta, mesmo sendo pessoas confiáveis.
Não se trata de “desconfiar”, mas de zelar pela segurança pessoal e patrimonial.
Tenha em mente a sedução que o dinheiro tem. Muita gente veio a perder a vida por causa do vil metal. Muitas vezes, não importa a quantidade e sim a “necessidade” momentânea de quem está ao seu lado.
Em meu primeiro, livro intitulado “Como Conviver Com a Violência”, lançado na Bienal em 1999, publiquei a seguinte frase:
“Aonde há dinheiro, existirá sempre a possibilidade de crime ocorrer”.
O dinheiro pode interferir nas emoções das pessoas, inverter lógicas e seduzir um pacato cidadão ao crime. O sonho de ficar rico, de comprar aquilo que bem quiser, de navegar por mares nunca dantes navegados ou simplesmente suprir necessidade financeira momentânea, pode levar qualquer pessoa às raias da loucura e insanidade.
JORGE LORDELLO
Pioneiro em Palestras “in company” sobre Segurança Pessoal e Patrimonial
Especialista em Segurança Pública e Privada
Palestrante e Conferencista
Escritor Internacional e Articulista com mais de 2500 artigos publicados
Pesquisador Criminal
Conhecida na mídia como “Doutor Segurança”
www.lordellotreinamento.com.br
jlordello@uol.com.br