Placa de Carro + Redes Sociais = Invasão à Condomínio
Alerta geral para síndicos e moradores de condomínios verticais e horizontais!
Imagine uma quadrilha de marginais formada por crianças, adolescentes e jovens até 21 anos que escolhe como alvo prédios de classe média-alta de bairros nobres de São Paulo.
O modus operandi desse grupo criminoso juvenil é inovador e serve de alerta para aqueles que moram, administram e trabalham em portarias de edifícios residenciais. São dois focos de atuação:
- Arrombar a porta de apartamento que estiver sem morador e furtar mercadorias de valor. Nessa condição, em nenhum momento usam arma de fogo.
- Render doméstico no apartamento e roubar pertences da família. Os bandidos juvenis utilizam arma de brinquedo (simulacro) para intimidar a vítima e mantê-la como refém no local.
O que eles desejam roubar no apartamento?
A estratégia não é levar objetos de porte médio ou grande, que poderia levantar suspeitas na hora da saída. O interesse é dinheiro, joias, celulares, tablets, notebooks e até pequenos cofres residenciais, que, geralmente, são retirados sem muito esforço.
Outro ponto importante, é que os criminosos entram sempre pela portaria, com autorização do porteiro, ou seja, não ocorre intimidação ou ameaça.
Mas como esses bandidos conseguem ludibriar com tanta facilidade funcionários de guarita?
A artimanha, que se mostrou inovadora, serve de reflexão para aqueles que moram e trabalham em edifícios residenciais e comerciais.
A estratégia respeita uma sequência de passos. Senão, vejamos:
1) Escolha de bairros nobres de São Paulo, tais como Moema, Itaim Bibi, Morumbi, entre outros;
2) Breve análise de risco para avaliar prédios de alto padrão nessas regiões, mas com baixo nível de segurança, ou seja, com erros e falhas visíveis;
3) Observavam carros de luxo que entram ou saem desses condomínios pré-determinados e anotam as placas;
4) Com a placa dos carros, conseguem todos os dados do proprietário, sendo que, geralmente, o endereço é o do local de moradia. Com isso, a quadrilha obtém nome completo, número do apartamento da provável vítima e o fone fixo da unidade a ser invadida;
5) Busca em redes sociais de perfil do proprietário do apartamento. Em poucos clicks, a quadrilha tem acesso farto da rotina de toda família, inclusive fotos;
6) Ligações telefônicas são feitas para o apartamento em diversos horários, por vários dias, buscando descobrir em qual período a unidade fica sem ninguém ou apenas com uma empregada doméstica;
7) Ligações telefônicas para o telefone fixo da portaria do prédio a ser invadido, onde os marginais, disfarçados de entregadores ou prestadores de serviços, desejam obter dois tipos de informações:
- Rotina da família do apartamento a ser invadido;
- Verificação de qual porteiro seria mais suscetível a ser ludibriado no dia marcado para a invasão.
O bando juvenil traçava o assalto após obter os seguintes dados:
- Nomes de todos os familiares e empregados do apartamento a ser invadido;
- Melhor horário e dia para a execução;
- Já conheciam as vulnerabilidades do edifício;
- Plano para enganar o porteiro e fazê-lo abrir o portão sem desconfiar de nada;
- Se o apartamento estiver sem ninguém, os bandidos levam ferramentas adequadas para facilitar o arrombamento sem fazer barulho;
- Se na unidade estiver apenas o funcionário (a preferência era sempre pelo sexo feminino) essa quadrilha usa arma de brinquedo (simulacro) para render a vítima.
Mas como a polícia descobriu esse novo esquema para invasão à prédios em São Paulo?
No início de dez/2017, no bairro de Moema/SP, um único apartamento em condomínio de classe média alta foi invadido. Por volta das 13h, uma criança pequenina, aparentando cerca de 8 ou 9 anos, tocou o interfone se dizendo enteado do morador do 11º andar. O porteiro, mesmo percebendo que o tal menino estava acompanhado de rapaz em torno dos 20 anos de idade, imediatamente abriu o portão, franqueando a entrada dos dois. Quando estavam entrando no hall social, o porteiro interfonou para o apartamento comunicando a chegada do tal enteado. A empregada doméstica salientou que os patrões não estavam em casa e que não tinha sido avisada que o enteado iria fazer visita, mas mesmo assim não levantou suspeitas.
Quando a empregada abriu a porta, percebeu que não se tratava de criança conhecida, sendo que ainda foi surpreendida com a presença do outro rapaz. Os dois marginais anunciaram o assalto e a trancaram em um cômodo da unidade. Em seguida, subtraíram bens totalizando cerca de R$ 140 mil. A dupla foi embora naturalmente do edifício e o porteiro não desconfiou do indivíduo maior de idade sair carregando mala de viagem de porte médio.
A vítima, revoltada com o ocorrido em seu apartamento, conseguiu com o síndico as imagens da entrada e saída dos dois marginais em seu condomínio, que foram largamente divulgadas pelos veículos de comunicação. Policiais civis, em curto espaço de tempo, prenderam parte da quadrilha e tomaram ciência das estratégias inovadoras usadas por esses jovens de personalidade duvidosa e perigosa.
De acordo com o explanado, surgem perguntas importantíssimas:
O que os moradores podem tirar de lição?
- Orientar a família e funcionários a jamais abrir a porta do apartamento sem antes olhar pelo olho mágico para confirmar quem realmente está desejando entrar;
- Instalação de vídeo-porteiro para facilitar a visão de quem está no hall e acionou a campainha da unidade;
- Empregados domésticos devem ser impedidos de autorizar a entrada de prestadores de serviço, entregadores e até visitantes. A autorização deve vir de familiares e não dos empregados. Estabelecida essa regra no lar, deve a decisão ser comunicada à portaria.
O que os porteiros podem tirar de lição?
- Funcionários de portaria devem atender visitantes na calçada e só liberar a entrada após autorização expressa de morador;
- Havendo mais de uma pessoa desejando entrar, deve o porteiro solicitar nome completo de todos e repassar os dados ao morador, para saber se autoriza ou não. É comum o porteiro anunciar apenas uma pessoa, mas que está acompanhada de outras. Eventualmente, o morador pode não desejar a entrada do ou dos outros;
- Desconfiar sempre de pessoas estranhas saindo do prédio carregando malas e bolsas grandes. O ideal é interfonar para o morador para saber se pode liberar a saída daqueles que estiveram em sua unidade.
O que os síndicos podem tirar de lição?
- Não adianta culpar o porteiro por liberação inadequada se o prédio não investiu em treinamento e capacitação com foco em segurança;
- O cadastro de pessoas estranhas ao edifício pode inibir crimes. O ideal é que a pessoa liberada a entrar no condomínio forneça RG ou CNH para anotação de nome e número da Cédula de Identidade. Em seguida, deve o porteiro fotografar o visitante e registrar no computador, através de software próprio de controle de acesso de pessoas, além do nome de quem liberou a entrada, horário de entrada e também de saída;
- Estabelecer regra que somente o morador pode liberar entrada de pessoas estranhas ao condomínio, a não ser que o próprio condômino autorize por escrito que o doméstico pode também autorizar a entrada.
- Estabelecer, como medida de segurança, regra que moradores ou empregados devem interfonar para a portaria toda vez que o visitante estiver deixando o apartamento.
JORGE LORDELLO
Pioneiro em Palestras “in company” sobre Segurança Pessoal e Patrimonial
Especialista em Segurança Pública e Privada
Palestrante e Conferencista
Escritor Internacional e Articulista com mais de 2500 artigos publicados
Pesquisador Criminal
Conhecida na mídia como “Doutor Segurança”
www.lordellotreinamento.com.br
jlordello@uol.com.br