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Dicas importantes segundo experiências vivenciadas.

Quadro é negro quando o assunto é segurança nas escolas

Diário Regional – Por Camila Galvez

Professores e alunos sentem na pele o que as pesquisas apontam: o ambiente está cada vez mais violento

A professora Gisela, que preferiu não revelar seu sobrenome, viveu uma situação que a fez se afastar definitivamente do ensino público e quase abandonar a profissão. Ela atuava numa escola na divisa de São Caetano com São Paulo, num bairro considerado violento e próximo da favela do Heliópolis, a maior da capital. “Duas alunas de mais ou menos 14 anos começaram a brigar dentro da sala de aula e uma delas retirou um canivete da mochila. Fui interferir para que a menina não partisse para a violência e ela ameaçou furar minha barriga”, relembra. Ela estava grávida de oito meses na época.

Gisela passou mal e precisou adiantar a licença-maternidade. Após o período, resolveu não voltar para a escola, na qual entrou por meio de concurso público. Colegas da profissão diziam que ela não deveria abandonar a estabilidade que o emprego oferecia, mas ela não se arrepende. “Hoje dou aula numa escola particular de São Caetano. O número de alunos é reduzido e a infra-estrutura oferecida é muito maior. Não adianta nada ter estabilidade e não saber se você vai viver para a próxima aula. Não vou dizer que estou livre deste tipo de violência por estar numa escola particular, porque tudo pode acontecer. Mas me sinto mais segura”, declara.

Em São Bernardo, os membros da regional do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) transformaram histórias como esta em números. Segundo uma pesquisa realizada em abril deste ano com representantes de escolas da cidade, pelo menos 59% dos profissionais já sofreram algum tipo de agressão verbal, 14% passaram por situações de assédio moral, outros 14% por violência física e 24% presenciaram consumo de drogas dentro das instituições de ensino.

Para o conselheiro da Apeoesp Aldo dos Santos, um dos responsáveis pela pesquisa, a situação reflete o descaso do governo com o ensino público. “Somos vítimas de uma educação que recebe cada vez menos investimentos, dando pouca ou nenhuma condição de trabalho para o professor. Falta tudo nas escolas, de papel higiênico a alunos que respeitam o educador”, destaca.

Santos afirma que os resultados da pesquisa vão ser encaminhados para a Diretoria de Ensino da cidade, com o objetivo de promover um debate entre os profissionais da educação em busca de soluções. “A violência que enfrentamos hoje é muito grande, e a cabeça do professor não é uma lousa na qual se passa um apagador e limpa tudo. Quem sofre este tipo de problema não esquece, pelo contrário, a situação só se agrava a cada dia que passa”, afirma. Para a Apeoesp, o professor precisa reagir por meio de denúncias, já que o silêncio e o comodismo atuam como inimigos nestas horas e preservam o criminoso, não a vítima.
» Especialista defende importância da participação dos pais

O especialista em segurança pública Jorge Lordello acredita que a violência nas escolas pode ser resolvida por meio de ações integradas entre pais e professores, mas alerta que a iniciativa não pode partir apenas dos estabelecimentos de ensino. “Por conta da desagregação familiar, os jovens não obedecem mais os pais, perderam o respeito pela hierarquia dos mais velhos. Este comportamento acaba sendo reproduzido também na escola”, destaca.

Outro problema apontado por Lordello é a questão do acesso às drogas. “Hoje em dia os adolescentes começam a fumar, beber ou consumir entorpecentes cada vez mais cedo. É comum que eles assistam às aulas fora do estado normal, o que influencia em atos violentos”, disse. As pesquisas comprovam a afirmação do especialista: 12 anos é a idade média da primeira experiência com estas substâncias, de acordo com o Núcleo de Apoio à Prevenção e Cessação do Tabagismo (PrevFumo), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Lordello aponta que a escola sofreu um relaxamento na questão da disciplina nos últimos anos, o que também levou ao aumento dos índices de violência. “A escola precisa de uma dupla de fatores para funcionar: aluno interessado e professor motivado. A violência deixa o professor com medo, e muitas vezes os estudantes vão para a escola sem vontade de aprender”, destaca.

O especialista faz questão de enfatizar que resultados positivos podem ser obtidos por meio de uma maior integração entre pais e escolas. “Os dois lados devem atuar juntos na formação do jovem. Há escolas que avisam os pais sobre excesso de faltas ou comportamentos violentos, e até mesmo promovem orientações sobre como tratar cada caso”, relembra.
» Colégios particulares não estão livres do problema

Uma pesquisa realizada pela Unesco, o braço das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura, concluiu que a violência não é exclusividade do ensino público. Os colégios particulares também passam pelos mesmos tipos de problemas.

Durante o estudo foram entrevistados 34 mil estudantes e mais de 13 mil pais e professores de 340 escolas de catorze capitais durante dois anos. Pelo menos a metade dos alunos estudava em colégios particulares, nos quais os casos mais comuns são relacionados à drogas. Os problemas mais graves, como homicídios, continuam concentrados nas periferias mais pobres.

Os pesquisadores consideraram como violência na escola agressões, roubos e assaltos, estupros, depredações, armas e discriminação racial. No passado, o problema era visto como rebeldia natural da adolescência. Os primeiros estudos sobre o assunto datam de 1950 e estão repletos de relatos de depredações e respostas malcriadas de alunos indisciplinados. O que antes era rebeldia hoje é crime de verdade. Nunca foi tão fácil o acesso a drogas e armas. Nem sequer é preciso procurar fora da escola, pois muitos consomem no próprio pátio, como conta o estudante Leandro Fabrício, de São Bernardo. “Fiz o primeiro ano do ensino médio no período da noite e convivi diariamente com colegas que consumiam todo tipo de droga. A maconha era vista como um cigarro normal e, se algum inspetor chegava para tentar conter o estudante, eles riam e afastavam o funcionário, que tinha medo”, relembra. Fabrício não quis terminar os estudos nesta escola. Preferiu procurar uma em São Paulo. “Era mais longe, mas me senti melhor e consegui fazer amizades que trago até hoje”, conta o estudante, que hoje faz faculdade de Engenharia em Santo André.

Outros números do levantamento também assustam: dos alunos que têm arma de fogo, 70% já levaram revólveres para a escola. As ameaças contra professores tornaram-se mais constantes e perigosas: 50% do corpo docente do estado de São Paulo, por exemplo, já relatou algum tipo de agressão e quatro de cada dez professores atribuem a violência ao envolvimento dos alunos com drogas.

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