Quais opções o autor de “homicídio emocional” tem logo após o crime?
O crime que envolveu Elize Matsunaga, condenada por ter assassinado o próprio marido dentro do apartamento que residiam, trouxe à baila discussão interessante sobre dois tipos de homicídios:
1) Premeditado
2) Em razão de violenta emoção
A morte arquitetada requer planejamento minucioso e pode ser executada pelo próprio autor ou mediante contratação de matador profissional. Tudo é devidamente orquestrado para que o desafeto perca a vida e a polícia tenha dificuldades em esclarecer o crime.
Já no homicídio de cunho emocional, tudo acontece num rompante. É como se os envolvidos estivessem na hora e local errados para que a tragédia acontecesse.
O momento crucial é a morte da vítima. O sentimento de arrependimento pode surgir nos momentos subsequentes, mas aí já é tarde; não existe a possibilidade de fazer o cadáver voltar a respirar.
Nesse momento de solidão, o autor do assassinato terá que refletir o que irá fazer dali pra frente. A experiência na esfera criminal contempla que o autor do homicídio emocional geralmente encontra 4 caminhos para escolher:
a)Suicídio: é muito comum aquele que matou em razão de forte emoção arrepender-se logo em seguida e não ver mais motivo para viver. Dessa forma, acaba atentando contra a própria vida.
b)Acionar a polícia: após cair em si da besteira que praticou, muitos homicidas entregam-se de forma imediata e voluntária à polícia.
c)Orientação de advogado: ao perceber que será difícil sair livre de uma investigação policial, o assassino procura apoio de advogado criminal, que, geralmente, orienta o cliente a fugir do estado flagrancial e em seguida se apresentar ao delegado de polícia responsável pelo caso. Agindo assim, a narrativa do investigado já irá apresentar elementos de defesa que visam pelo menos minimizar a pena no julgamento pelo tribunal do júri.
d)Tentativa de não responder pelo crime: a ideia é eliminar pistas, e uma das alternativas é sumir com o cadáver. Todos os vestígios devem ser eliminados e provas destruídas. A rotina de vida é mantida para não levantar suspeitas.
Elize Matsunaga optou pela última alternativa. Ela não telefonou para ninguém, não pediu conselhos a amigos nem a advogados. Provavelmente, após voltar à racionalidade, percebeu que a probabilidade de ser descoberta era grande. Deve ter esperado por alguns minutos para saber se alguém iria avisar a segurança sobre disparo de arma de fogo no interior do apartamento. Elize esclareceu que o marido havia substituído as janelas da unidade por modelo anti ruído. Outro ponto a seu favor, é que o prédio tem apenas um apartamento por andar, de metragem grande, o que dificultou que fosse ouvido o disparo da pistola calibre 380, de propriedade de Elize.
Em razão a isso, a autora do homicídio deve ter ficado um pouco aliviada, mas logo surgiu em sua mente a seguinte dúvida:
“Como desaparecer com o cadáver corpulento, de um homem alto e com mais de 100 quilos?”.
Elize conhecia bem o prédio, pois morava há quase 5 anos lá. Sabia que as áreas comuns eram repletas de câmeras de segurança, inclusive os elevadores. Os funcionários da segurança também eram outro entrave para retirar o corpo do marido sem gerar suspeitas.
A alternativa criada por Elize para tentar despistar e confundir o trabalho da polícia, foi esquartejar o corpo, limpar todo sangue no apartamento, resfriar as partes em um freezer, isso para impedir cheiro e vazamento de sangue, embalar em sacos plásticos e transportar em 3 malas de viagem.
O problema é que as câmeras de segurança do edifício registraram a entrada de Marcos Matsunaga, mas a saída…
CONCLUSÃO
Todas as 4 possibilidades que mencionei provavelmente passaram pela mente de Elize Matsunaga após balear o esposo na têmpora, provocando-lhe a morte. Tecnicamente, a melhor opção teria sido comunicar a polícia imediatamente e contar os fatos sem mentiras, colaborando, assim, com a Justiça. Se tivesse optado por esse caminho, provavelmente teria respondido o processo em liberdade, conseguiria a guarda da filha e teria muita chance de ser condenada por homicídio simples privilegiado, que lhe renderia por volta de 5 anos de prisão, sendo que dificilmente seria conduzida ao cárcere.
Mas ela preferiu tentar enganar a polícia e a justiça; se deu mal, pois seu plano ardiloso não funcionou; por isso continua presa no presídio feminino de Tremembé/SP.
JORGE LORDELLO
Pioneiro em Palestras “in company” sobre Segurança Pessoal e Patrimonial
Especialista em Segurança Pública e Privada
Palestrante e Conferencista
Escritor Internacional e Articulista com mais de 2500 artigos publicados
Pesquisador Criminal
Conhecida na mídia como “Doutor Segurança”
www.lordellotreinamento.com.br
jlordello@uol.com.br